‘Ele tinha um olhar de ódio’, diz professora de crianças atacadas em creche de SC

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Larissa Menegotto relata os momentos de terror diante do assassino que matou três crianças e duas educadoras na escola infantil da cidade catarinense de Saudades

A professora Larissa Gabriela Menegotto com Murilo Massing; o menino morreu no ataque à creche em Saudades Foto: Arquivo pessoal

Em sua rotina na creche Pró-Infância Aquarela, na cidade catarinense de Saudades, a estagiária de pedagogia Larissa Gabriela Menegotto, 22 anos, preparava o almoço das crianças todos os dias por volta das 10h30. Na última terça-feira (4), a agente educativa Mirla Renner se prontificou a cuidar da tarefa.

Larissa ficou incumbida de acordar os pequenos que dormiam em uma das salas. Ela se deitou no colchão com os quatro da turma presentes naquela manhã. Enquanto os despertava, gritos ecoaram pelos corredores da instituição. Com as cortinas fechadas, ela não conseguia ver nada.

Larissa saiu então pela porta dos fundos da sala para observar o que estava acontecendo e avistou o assassino caminhando pelo corredor. Neste instante, ele percebeu a presença da educadora.

— Quando ele me viu, veio caminhando tranquilo (pelo corredor) na minha direção, mas tinha um olhar de ódio, sangue nos olhos, como se eu fosse culpada por algo.

A reação de Larissa foi voltar para dentro da sala e correr em direção à outra porta para pedir socorro. Ele percebeu a intenção da educadora e seguiu pelo corredor para tentar intercepta-la do outro lado, na porta principal da sala.

Larissa foi mais rápida. Alcançou o portão de acesso da escola e gritou por ajuda.

Do corredor, próximo à porta, ele desistiu de atacar a educadora ao ver as crianças dentro da sala. E entrou.

Àquela altura, a professora Keli Aniecevski, de 30 anos, já havia sido morta a facadas pelo jovem. Ela foi a primeira vítima do criminoso, pouco depois de ele entrar na creche. Em seguida, Mirla Renner, de 20 anos, foi atacada e também não resistiu.

— Fui para a rua pedir socorro e voltei quando ele já havia sido imobilizado. Aí entrei na sala e já encontrei todos (os bebês) no chão — revelou Larissa.

Bebês vítimas de ataque em creche: Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses, Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses, e Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses

Os últimos alvos foram justamente as quatros crianças que estavam na sala com a educadora  — apenas uma sobreviveu após ser submetida a uma cirurgia. O bebê se recupera no hospital após deixar a UTI.

Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses; Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses; e Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses, não resistiram.

Após o ataque, o jovem cortou o próprio pescoço com a faca usada no crime, mas não conseguiu concluir a tentativa de suicídio e ficou estirado no chão. Foi levado em estado gravíssimo a um hospital em Chapecó, onde passou por duas cirurgias. Ele segue internado na UTI.

Quando o criminoso chegou à creche de bicicleta naquela manhã, funcionários pensaram que ele fosse pai de umas crianças. De capuz e com o facão escondido, ingressou normalmente pela entrada principal. Keli o abordou perto do portão principal para saber se ele procurava por alguém. Foi esfaqueada ali mesmo. Com os gritos, professoras seguraram as portas para impedir a entrada do criminoso.

— Em três turmas, as professoras seguraram a porta com a própria força. Nenhuma nunca teve chave. Aqui a gente nunca trancava a sala. Tem um assalto a cada 10, 15 anos na cidade. Na hora, ninguém entendeu o que estava acontecendo. Pensei que a Keli estava passando mal  — disse Larissa.

Nas lembranças de Larissa, as cenas das crianças chegando à creche logo cedo. Ela era responsável por medir a temperatura de cada uma delas entre 6h50 e 7h45.

Sarah soltou a mão de sua mãe e correu em direção à sala, o que não costumava fazer. Murilo só aceitou entrar no colo da educadora. Anna Bela era a mais agitada, o ‘furacão’ da turma, que não parava quieta. São imagens que se repetem na cabeça de Larissa.

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