Ex-companheira de oficial de Justiça assassinado com tiros na cabeça, médica é presa sob suspeita de participar do crime

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Delegado que investiga o caso confirmou a prisão. Família de Jorge Eduardo Lopes Borges diz que havia disputa pela guarda da filha do casal. Defesa da médica nega motivação para o crime.

Carro do oficial de Justiça foi atingido por tiros durante abordagem de criminoso na Estrada do Arraial, no Recife — Foto: Reprodução/WhatsApp

A médica Silvia Helena de Melo Souza Alencar foi presa sob a suspeita de ter envolvimento com o assassinato do oficial de Justiça Jorge Eduardo Lopes Borges, ex-companheiro dela e com quem tem uma filha de 6 anos. Jorge foi morto com tiros na cabeça disparados por um motociclista no domingo (4), no bairro da Tamarineira, na Zona Norte do Recife.

Em entrevista ao g1, o delegado Luiz Alberto Braga, responsável pela investigação do caso, confirmou a prisão de Silvia Helena e que houve um relacionamento entre ela e a vítima do crime. “Ela não é a autora direta do crime”, disse o investigador. Ele também contou que essa foi a única prisão efetuada no inquérito até este sábado (17).

Silvia foi levada para a Colônia Penal Feminina do Recife. A defesa da médica negou que ela seja culpada e disse que não há motivação para o crime. Também afirmou que avalia a possibilidade de pedir um habeas corpus para ela.

O delegado informou que tem um prazo de 30 dias para concluir o inquérito, que pode ser prorrogado por mais 30 dias. Segundo Luiz Alberto Braga, detalhes sobre a investigação e a possível motivação do crime serão divulgados em uma coletiva de imprensa no início da próxima semana.

O que diz a acusação

O advogado Marco Aurélio Freire, contratado pela família de Jorge como assistente de acusação, relatou ao g1 que o oficial de Justiça havia conhecido a médica no final de 2015, e os dois começaram a se relacionar. Em fevereiro de 2016, ela engravidou. A menina nasceu em outubro do mesmo ano.

Ainda segundo o advogado, os dois tentaram morar juntos, mas a relação não deu certo. Depois que se separaram, em 2017, eles começaram a brigar pelo valor da pensão e pela autorização para que Jorge pudesse ver a filha, de acordo com o defensor.

No final do ano passado, os dois discutiram em frente ao colégio onde a menina estuda, na Avenida Rui Barbosa, pois era dia de Jorge ficar com a menina, mas Silvia foi buscá-la para levar para casa, e, durante a briga, o oficial teria chamado a médica de louca, segundo o advogado.

O defensor também contou que, por conta disso, Silvia entrou na Justiça com um pedido de medida restritiva contra Jorge, dificultando as tentativas dele de passar dias com a filha. O assistente de acusação afirmou que, depois disso, Jorge recorreu à Justiça, que obrigou a mãe a permitir que o pai levasse a menina para passar o fim de semana na casa dele.

O advogado Yuri Herculano, que representa a médica, confirmou que a cliente acionou a Justiça para pedir a medida protetiva e afirmou que Jorge teria praticado violência psicológica e agressão verbal contra Silvia.

O atrito entre Silvia e Jorge se intensificou desde o início deste ano, quando o oficial de Justiça se casou mais uma vez, segundo Marco Aurélio Freire. Além da menina de 6 anos, ele deixou um segundo filho, nascido há dois meses.

O advogado da família de Jorge também contou que o oficial havia aceitado trocar a data da visita à filha a pedido do marido de Silvia, que queria levar a criança para uma festa de aniversário no final de semana seguinte. Por isso, Jorge levou a menina para passar o sábado (3) com ele.

No dia seguinte, Jorge usou um carro que não era o dele para deixar a filha na casa de Silvia. No caminho de volta para casa, o oficial foi atingido por, pelo menos, sete tiros na cabeça, disparados por um motoqueiro que estava parado no sinal atrás do automóvel dirigido pela vítima do crime.

“É [um criminoso] profissional porque ele saca a arma, empunha com as duas mãos, e sai com a maior tranquilidade do mundo. Ele não se aproxima. Eu tenho muita experiência no tribunal do júri. Geralmente, o sujeito se aproxima da vítima”, afirmou Marco Aurélio Freire.

O que diz a defesa da médica

O advogado de Silvia, Yuri Herculano, disse ter sido surpreendido com a decretação da prisão temporária porque a médica se dispôs a colaborar com as investigações desde o primeiro momento.

“O fato se deu no dia 4. E, no dia 5, quando a gente tomou conhecimento de rumores de que algumas pessoas podiam estar imputando a ela qualquer participação, já comparecemos perante a autoridade policial e nos colocamos à disposição para esclarecer qualquer fato. Nos colocamos à disposição para ele [o delegado] escutar Silvia desde o primeiro dia”, declarou Yuri.

O defensor da médica também contou que apresentou uma petição afirmando que não se oporia a entregar, espontaneamente, qualquer quebra de sigilo que o delegado entendesse ser necessária para elucidar o caso, fosse ele fiscal, telefônico ou bancário. “Infelizmente, não se procedeu dessa forma”, disse Yuri.

“Havia uma ação de guarda em curso em que se discutiam os termos da visitação, do convívio, como se daria. E, apesar de ser um litígio judicial, não havia uma animosidade ao ponto de gerar uma desavença desse nível”, contou Yuri.

O advogado disse ainda que a defesa indicou uma lista de testemunhas que poderiam indicar que “a disputa [pela filha] ocorria dentro da normalidade do dia a dia”, mas que nenhuma delas foi ouvida ainda pela polícia.

O representante da médica confirmou que a irmã de Silvia foi ouvida pelo delegado antes da decretação da prisão. “Mas eu não queria nem falar sobre o teor desse depoimento antes de ouvir o que vão falar (os investigadores), me antecipando em relação a qualquer coisa”, disse Yuri, lembrando que a situação envolve também uma questão familiar.

Entenda o caso

O oficial de Justiça Jorge Eduardo Lopes Borges, de 41 anos, foi baleado na cabeça dentro do carro enquanto dirigia pelo cruzamento da Estrada do Arraial com a Rua Sebastião Alves, no dia 4 de setembro. Uma câmera de segurança flagrou o momento em que um motociclista saca a arma e desfere vários tiros contra o carro do oficial.

O crime ocorreu às 17h38, segundo o vídeo, no qual é possível ver, ao menos, sete disparos. Depois disso, o carro se movimenta lentamente e o condutor sai do enquadramento da câmera.

Jorge foi levado, inicialmente, para o Hospital Getúlio Vargas, no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife. Como os ferimentos eram muito graves, ele foi transferido para o Hospital da Restauração (HR), no bairro do Derby, na área central da cidade.

Depois disso, ele ainda foi levado para uma unidade da Unimed na capital pernambucana. Na quarta-feira (7), a morte cerebral do oficial foi confirmada pelos médicos, segundo informou o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), onde Jorge trabalhava desde 2007.

As investigações foram iniciadas pela equipe da Força-Tarefa de Homicídios da Capital do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), como informou a Polícia Civil dois dias após o crime.

Fonte G1PE

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