Filho de cortador de cana, jovem deixa o interior para realizar o sonho de se formar em medicina

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Wellington Gomes saiu da Zona Rural de Ribeirão, na Zona da Mata Sul, para realizar o sonho de se tornar médico, no Recife. A formatura dele está prevista para o fim deste ano.

O relato de um estudante de medicina gerou repercussão nas redes sociais, depois que o aluno publicou uma foto com o pai, cortador de cana-de-açúcar, com os instrumentos de trabalho que garantiram os seus estudos. Wellington Gomes saiu da Zona Rural de Ribeirão, na Zona da Mata Sul, para realizar o sonho de se tornar médico, no Recife. A formatura está prevista para o fim deste ano.

Wellington morava num engenho afastado da cidade. Todos os dias, pedalava 24 quilômetros para ir e mais 24 para voltar da escola, já que o transporte não chegava até a localidade em que ele morava com a família. Ele ganhou a bicicleta em um sorteio da escola. No ensino médio, escolheu fazer medicina.

“”Minha mãe até pensou em me tirar da escola, porque era esquisito e eu saía de manhã e voltava à noite, mas ela começou a ir às reuniões escolares, a ver os professores falarem bem e foi me deixando. Quando eu estava no segundo ano do ensino médio, ela faleceu depois de uma tuberculose. Antes disso, no Hospital da Restauração, eu tinha prometido a ela que faria medicina, para ajudar as pessoas. Ela chorou e disse que não estaria aqui para ver. Isso foi numa sexta e, na segunda-feira, ela morreu”, disse o jovem.

Wellington estudou na Escola João Lopes de Siqueira Santos, em Ribeirão, na Zona da Mata Sul de Pernambuco. A aposentada Josiana Salviano, uma das professoras do futuro médico, lembra que, há dez anos, se alegrava com o jeito brincalhão do estudante do terceiro ano.

“Welington sempre foi um aluno muito estudioso, muito determinado, muito brincalhão, no bom sentido. Era muito querido tanto pelos ex-colegas de sala quanto por todos professores. Eu tenho um carinho muito grande por Wellington, uma relação de mãe e filho”, afirmou.

No mural da escola, estão Wellington e o pai, o cortador de cana-de-açúcar Arnaldo Alves. O trabalhador rural, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental, sempre fez questão de que o filho tivesse mais oportunidades.

“Ele sempre soube o que queria. Desde a infância, ele me dizia que ia me tirar do corte de cana. Porque toda vez que eu chegava do trabalho, eu dizia ‘não queira isso pra você’”, disse.

Quando concluiu o ensino médio, Wellington mudou-se para o Recife. Numa escola, trabalhou para conseguir estudar. O professor Carlos Jawwpa trabalhava na mesma escola que ele e notou no rapaz uma vontade de aprender.

“Ele fazia parte do sistema de colaboradores, que ficam ali, no corredor, trabalhando com a disciplina e, em troca disso, a escola dava a ele o acesso ao pré-vestibular. Eu percebi que ele ficava vendo pelo vidro, pela portinha ali e, um belo dia, ele teve coragem de tirar uma dúvida. Daí, nasceu o convite para ele ir para o meu curso, extensivo a todas as disciplinas”, declarou.

Ainda no ensino médio, foi do corte de cana-de-açúcar que Wellington tirou o dinheiro para fazer o primeiro vestibular da vida, o Sistema Seriado de Avaliação da Universidade de Pernambuco (UPE). Ele pediu ajuda ao pai e, mesmo sendo menor de idade, passou o dia inteiro cortando cana para conseguir o valor da inscrição.

Em 2016, ele foi aprovado no curso de medicina da Faculdade Pernambucana da Saúde, por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni). Os livros custavam caro e foram custeados com a ajuda de colegas e familiares de colegas.

“Aqui no Recife, eu moro na Casa do Estudante de Pernambuco, que ajuda muito quem vem do interior e não tem condições, como eu. A gente depende muito das doações que a casa recebe, e a casa retribui com a sociedade formando médicos, advogados, jornalistas. Se não fosse esse local, eu não teria chegado onde cheguei”, afirmou.

Atualmente, Wellington está na última etapa do curso, chamada de internato. Ele acompanha a rotina do Hospital Agamenon Magalhães, na Zona Norte do Recife. Para ele, a pandemia é mais um desafio.

“Eu estava atendendo ginecologia, quando veio o boom da Covid. Isso nos atrasou bastante e, por causa disso, ainda estamos devendo carga horária. No internato, a gente vê, na prática, a vida de um médico. Gente esperando cinco dias num leito de enfermaria porque não consegue uma vaga de UTI. É bem difícil, mas vamos vencer, se estivermos todos juntos”, declarou.

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