Homem que perdeu a visão de olho atingido por bala de borracha da PM durante protesto pacífico no Recife deixa hospital
Segundo a Fundação Altino Ventura, esteticamente e externamente, o globo ocular de Jonas Correia de França está íntegro, mas não foi possível reverter o dano causado à visão dele.
O arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos, que perdeu a visão no olho direito após ser atingido por uma bala de borracha atirada pela Polícia Militar, teve alta médica nesta sexta-feira (4), após avaliação da Fundação Altino Ventura. Ele e outro homem que perdeu um dos olhos foram agredidos durante um protesto pacífico contra Bolsonaro (sem partido), no Recife, do qual não participavam.
Desde sábado (29), Jonas estava internado no Hospital da Restauração, no Derby, na área central do Recife, mas era acompanhado pela equipe médica da Fundação Altino Ventura. Em nota, a fundação disse que, esteticamente e externamente, o globo ocular de Jonas está íntegro, mas não foi possível reverter o dano causado à visão.
A Fundação Altino Ventura acrescentou, no texto, que a equipe médica decidiu não fazer nenhum procedimento cirúrgico no olho lesionado e que o arrumador continua sendo acompanhado semanalmente. “Foi constatada uma melhora importante do edema na região em volta do olho direito; o sangramento intraocular também está sendo contido”, disse, na nota.
Repressão violenta e repercussão
Durante a manifestação, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida por spray de pimenta no rosto. O cantor Afroito foi preso durante o ato e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais.
Além de Jonas, também perdeu parte da visão o adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha. Policiais negaram o pedido de socorro feito por ele.
Os dois vão receber um auxílio do governo no valor de dois salários mínimos, por três meses. Parentes de Daniel e Jonas disseram que ganharam cestas básicas do governo. Valores de indenização e da pensão até os 75 anos ainda não foram definidos.
Governo e investigação
No sábado (29), o governador afastou o comandante da ação e policiais envolvidos na agressão à vereadora Inquéritos foram abertos para apurar a conduta dos policiais. São investigados, até o momento, um major, um capitão, um tenente, dois sargentos e três soldados.
De acordo com a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), o servidor público responsável pelo disparo contra Jonas foi afastado disciplinarmente pela Corregedoria e teve o armamento e carteira funcional recolhidos. Um conselho de disciplina contra o policial do Batalhão de Choque está sendo instaurado.
A Corregedoria também investiga a omissão de socorro a Daniel Campelo. Além disso, o Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil sobre a ação truculenta da PM.
Na segunda-feira (31), o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, disse que “não há uma Polícia Militar paralela em Pernambuco”.
Na terça-feira (1º), o então comandante da Polícia Militar, coronel Vanildo Maranhão, pediu exoneração. Ele foi substituído pelo coronel Roberto Santana, empossado nesta sexta-feira (4).