Idosa é resgatada no Rio após 72 anos em situação análoga à escravidão; é caso mais antigo de exploração no Brasil

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Mulher está sob os cuidados da Prefeitura do Rio desde meados de março, quando foi retirada da casa onde era escravizada.

Uma mulher que passou 72 anos em situação de exploração no Rio de Janeiro é o caso mais longo de situação análoga à escravidão registrado no Brasil, segundo o Ministério do Trabalho. Ela foi resgatada há dois meses, após uma denúncia anônima.

Segundo o órgão, a idosa passou a vida inteira trabalhando para a mesma família sem receber salários nem benefícios. O órgão alerta que casos como o dela, 134 anos após a Abolição da Escravatura, não são raros.

“Ela não tem a noção que ela foi escravizada. Ela não tem. Ela não tem noção alguma disso”, afirmou Cristiane Lessa, assistente social e diretora do centro de recepção de idosos onde a mulher está abrigada.

A idosa, que não teve a identidade revelada para preservá-la, está aos cuidados da Prefeitura do Rio desde 15 de março, quando foi resgatada.

Ela não casou, não teve filhos e perdeu o contato com os familiares.

Quando a mulher foi resgatada, ela trabalhava como cuidadora da dona da casa e dormia em um sofá, na entrada do quarto principal. Uma denúncia levou o Ministério do Trabalho até a casa, na Zona Norte da capital fluminense.

“Essa senhora, que os empregadores alegam que é da família — e não é —, fica absolutamente submissa. O empregador que fala por ela. Qualquer resposta que a gente solicita dela, é o empregador que responde. Os documentos dela não estão de posse dela mesma. O empregador que tem esses documentos”, contou Alexandre Lyra, auditor fiscal do trabalho.

Maior número desde 2013

Mesmo com a existência de uma legislação que determina os direitos do trabalhador, no ano passado, o país registrou o maior número de pessoas resgatadas em condição análoga à escravidão desde 2013.

Foram 1.937 brasileiros retirados de situações degradantes. Mais do que nos sete anos anteriores. Em 2013, 2.808 trabalhadores viviam como pessoas escravizadas.

“Aquele que explora o trabalho escravo terá que pagar, primeiro, todos os direitos devidos àquele trabalhador que foram sonegados. Essa submissão do trabalho escravo acaba sendo um meio de enriquecimento ilícito”, disse Thiago Gurjão, procurador do Trabalho e integrante do Núcleo Regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaete).

“Ele também terá que pagar indenizações por dano moral e, evidentemente, responder pelo crime previsto em lei do artigo 149 do Código Penal. Ele pode gerar prisão de dois a oito anos”, emendou Thiago.

Vítimas tentam recomeçar

Elza Costa da Silva e Maria Santiago, que se conheceram em um centro de triagem da Prefeitura do Rio de Janeiro após serem resgatadas de casas de famílias, atualmente são vizinhas.

Elza estava há 14 anos na mesma casa de família e começa a entender o que viveu.

“Tirei férias uma vez só todos esses anos. Não sabia nem o que era negócio de escravidão, estava por fora. Não sabia nem o que era isso. Agora eu já vim a aprender aí com as pessoas”, contou.

Maria viveu mais de 50 anos com a mesma família. Ela é uma mulher gentil, atenciosa e que adora fazer bolos. Porém, o semblante muda ao lembrar da família com quem morava. Ela quer voltar à antiga casa. Nunca conheceu outra vida e não soube o que era fazer as próprias escolhas.

“Eu não gosto de conversar isso”, afirmou.

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