‘Matar índio, quilombola e sem-terra não leva a punição’: assassinato de menino de 9 anos por conflito agrário expõe impunidade no campo
Executado enquanto se escondia embaixo da cama com a mãe, filho de líder rural é mais uma vítima da disputa por terras no Brasil, onde 61% das investigações de assassinato em conflitos agrários não foram concluídas em até um ano depois do crime.
A execução do menino Jonatas Oliveira, em Barreiros, Pernambuco, é um recorte trágico da disputa por terra no Brasil. O filho de 9 anos do líder rural Geovane da Silva Santos foi morto por pistoleiros encapuzados na última quinta (11), diante da família, enquanto tentava se esconder embaixo da cama com a mãe. O crime ocorreu na mesma semana em que o assassinato da missionária Dorothy Stang completou 17 anos.
O que une os dois casos, segundo especialista ouvido no episódio #644 de O Assunto, é a impunidade recorrente e histórica no campo brasileiro.
“É uma impunidade recorrente”, afirma Carlos Lima, um dos coordenadores nacionais da CPT. Em entrevista a Renata Lo Prete, o historiador avalia de que modo as políticas do atual governo contribuem para disseminar, entre os agressores, a certeza de que “matar índio, quilombola e sem-terra” não resulta em condenação, menos ainda dos mandantes.
Em 2020, primeiro da pandemia e o último com dados consolidados disponíveis, o Brasil registrou mais de 1.500 conflitos de terra, recorde desde 1985. A Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, aponta ainda aumento de 30% nos assassinatos derivados desses conflitos -crimes cuja investigação não raro dá em nada. Dados da Pastoral da Terra, trabalhados pela organização Repórter Brasil, mostraram que 61% das investigações de assassinato em conflitos agrários não tinham sido concluídas um ano depois do evento. Só um caso entre os estudados foi encerrado e praticamente não houve prisões.
O repórter Ricardo Novelino, do g1 em Pernambuco, recupera a história de Jonatas e explica o conflito em Barreiros, na Zona da Mata pernambucana. Para ouvir o episódio inteiro é só dar o play: