Parentes de menina que morreu após ser baleada durante ação da PM em Porto de Galinhas fazem protesto e cobram justiça no Recife
Família de Heloysa Gabrielly contesta versão da Polícia Militar, afirma que não houve troca de tiros e pede celeridade nas investigação. Vizinhos também participaram do ato.
Parentes, vizinhos e amigos de Heloysa Gabrielly fizeram um protesto, nesta segunda-feira (4), pedindo justiça pela morte da menina, de 6 anos, baleada durante uma ação da Polícia Militar em Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Grande Recife. Eles viajaram mais de 50 quilômetros até o Centro do Recife para pedir ao governo de Pernambuco celeridade nas investigações.
Os participantes do ato chegaram ao Recife em dois ônibus, que estacionaram na Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista. Saíram em caminhada até o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, para tentar uma reunião com o governador Paulo Câmara (PSB).
No caminho, moradores de prédios da Rua da Aurora aplaudiram o protesto. Os manifestantes gritavam frases como “não foi troca de tiros”, contestando a versão da Polícia Militar de que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) teria sido alvo de tiros de suspeitos de tráfico na região e reagido.
As armas dos policiais envolvidos na ação foram recolhidas para perícia e a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso.
Desde a morte de Heloysa, moradores da comunidade de Salinas, onde ocorreu a morte, dizem que somente a Polícia Militar atirou. A menina estava no terraço da casa da avó quando foi atingida.
Tia e madrinha de Heloysa, a vendedora Ubia Fernandes reiterou a versão de que não houve troca de tiros.
“Era um anjinho que tinha acabado de fazer 6 anos. Não foi troca de tiros, houve uma perseguição e o Bope entrou com tudo na Praça da Televisão, com crianças no meio, e tirou a vida da minha sobrinha. […] Enquanto existir vida, vamos lutar por justiça por Heloysa”, afirmou a vendedora.
Ubia Fernandes também rebateu a informação dada pela PM de que um revólver com quatro munições deflagradas teria sido deixado no local do crime pelos suspeitos que teriam trocado tiros com o Bope. “O menino não estava armado, todo mundo viu”, declarou.
O pedreiro William Fernandes, tio de Heloysa, disse que a comunidade se uniu em prol do pedido de justiça. “Foi uma operação totalmente errada, que mostra o despreparo da Polícia Militar de Pernambuco. A gente veio pedir que a justiça seja feita, que não fique impune”, disse.
A camareira Uelândia Fernandes Nunes, também tia de Heloysa, reclamou da atuação da Polícia Militar no município. Mais de 24 horas depois da morte da menina, a polícia enviou aos distritos de Salinas, Socó e Pantanal cerca de 250 policiais civis e militares.
“Querem nos amedrontar, ficam o tempo todo rondando nossas casas, estamos sem privacidade nenhuma. Teve um dia que estávamos comendo e eles entraram com arma em punho, eu disse ‘moço, vocês já tiraram a vida da minha sobrinha’. Ontem, abordaram uma vizinha que estava com uma caderneta e perguntaram se era uma lista de traficantes”, declarou.
Morte e protestos
Heloysa Gabrielly, de 6 anos, foi baleada enquanto brincava no terraço da casa da avó, na comunidade Salinas, em Porto de Galinhas, no final da tarde de quarta-feira (30). Ela foi socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu ao ferimento.
A morte da menina provocou a revolta da população. Houve três dias de intensos protestos pedindo justiça pela morte de Heloysa. O comércio fechou, os jangadeiros e bugueiros pararam de atender a turistas e vias foram bloqueadas. Algumas pessoas ficaram “ilhadas”, sem poder sair da cidade, e sem comida e hospedagem.
Segundo fontes ligadas à Polícia Civil, a principal preocupação das forças de segurança é a atuação de um grupo criminoso que controla o tráfico de drogas na região.
Por causa desse grupo, o governo de Pernambuco teria intensificado a presença da polícia nas comunidades de Salinas, em que Heloysa morreu, e em Socó e Pantanal, nas mesmas redondezas. Os moradores afirmam que, desde então, a comunidade não tem mais sossego devido às ações policiais.
Após reforçar o policiamento, o governo estadual aproveitou a estrutura da Secretaria de Defesa Social do município, que conta com mais de 100 câmeras, para passar a monitorar as áreas de Porto de Galinhas e coordenar as operações policiais diretamente do município.
O final de semana foi marcado pela tranquilidade e por um protesto pacífico da família da menina pedindo justiça.